A apropriação intelectual no meio acadêmico se expande vertiginosamente, principalmente com a facilidade de acesso às informações que o advento da internet nos proporcionou. É um problema que precisa ser discutido, principalmente no ambiente onde profissionais estão sendo preparados, onde o conhecimento está sendo formado. Além das questões éticas envolvidas, existe o prejuízo pedagógico padecido pelo próprio estudante. Precisamos compreender os motivos que levam a este comportamento, para assim combatê-lo.
Com a ampliação do acesso às redes sociais e a facilidade de publicação, nos tornamos “autores” de imagens e textos que socializamos, sem nos preocuparmos muitas vezes com a linguagem empregada e sua autoria. Essa mesma liberdade, acaba sendo empregada e reproduzida pelos discentes nas atividades acadêmicas. O “Ctrl + C, Ctrl + V” tornou-se tão comum entre eles, que muitas vezes não se dão o trabalho nem de retirar o hiperlink, e não fazem isso para que você possa visitar o site ou arquivo de referência, apropriam-se daquela ideia como sendo deles, só porque mudaram uma palavra ou outra.
Algumas pesquisas mostram que os alunos desconhecem a Lei dos Direitos Autorais e suas implicações. Não apresentam o entendimento pleno sobre plágio e desta forma, violam os direitos autorais e imagem de forma não intencional. Embora alguns até saibam das imputações criminais, eles não têm conhecimentos suficientes para a construção apropriada de seus trabalhos e atividades acadêmicas.
Uma outra discussão se direciona para a ótica antropológica da cultura vigente. Sugere que os alunos utilizam o famoso “jeitinho brasileiro” para obter benefícios, que por vezes é legitimado pela percepção de “injustiça” no exame avaliativo imposto.
Como docentes, devemos preparar melhor os estudantes. Ensiná-los o que é permitido na construção do pensamento científico crítico.
Daí a pergunta, como treinar os estudantes para que compreendam o sentido e valor da autoria? Falar para eles da Lei e normas da ABNT em muitos casos até dá certo, mas podemos usar um adjetivo bastante em voga nos dias atuais, a “empatia”. Por exemplo, para produzir esse texto foi empregado um tempo, tempo que se convertido em moeda, representaria parte do salário das professoras envolvidas na sua produção, se convertido naquele cafezinho com os amigos, que elas deixaram de tomar, já que estavam preocupadas em terminar o artigo e não perder o fio da meada, talvez até fizesse mais sentido para quem está lendo esse artigo.
Mas, como sabemos que quase ninguém, ao reproduzir um texto de outrem, se preocupa com essas coisas, vamos então apelar para o bom senso. Pense conosco, mesmo que você escreva alguma coisa após estudar o conteúdo disponibilizado pelo professor para aquela atividade, mesmo que essas “suas palavras” apesar de parecerem suas, foram inspiradas por alguém, então esse alguém é o autor do texto que merece ser lembrado e citado.
Dependendo da natureza da atividade, a sua subjetividade irá aparecer, bem como seu posicionamento, suas experiências, sua visão de mundo e quando fazemos isso, não significa que deixamos de nos posicionar ou nos anulamos, só estamos apresentando ideias e autores que corroboram para a discussão, embasam pensamentos e teorias, é aquela conversa entre amigos sabe, que vara a noite. É assim que escrevemos sobre algo e formamos nossas opiniões e posicionamentos.
Porém, apresentar nossas respostas requer leitura e também gastar um tempo para escrever, apagar e escrever de novo, em tempos de atividades online diria digitar, deletar, digitar de novo, quantas vezes forem necessárias para a construção de um texto de sua autoria. E é aí que o tempo aparece mais uma vez.
O que queremos dizer para você é que, ser autor de algo inédito, irá exigir um tempo precioso, sim, mas que trará a recompensa e valoração dessa dedicação. Não estamos falando só da atribuição de uma nota numa atividade, estamos falando de levar em consideração aquele tempo que você deixou de sair, de conviver com seus amigos, família, para enfim terminar orgulhosamente seu texto, sua fotografia, seus pensamentos ou produção e de socializar algo genuinamente seu, e isso é muito legal.
Então, da próxima vez que for escrever alguma coisa ou publicar algo, que tal se lembrar do que escrevemos aqui?!
Referências: PITHAN, Lívia Haygert. O plágio acadêmico como um problema ético, jurídico e pedagógico. Direito & Justiça (Porto Alegre. Impresso), 2013. VELUDO-DE-OLIVEIRA, Tânia Modesto et al. Cola, plágio e outras práticas acadêmicas desonestas: um estudo quantitativo-descritivo sobre o comportamento de alunos de graduação e pós-graduação da área de negócios. RAM. Revista de Administração Mackenzie, v. 15, n. 1, p. 73-97, 2014. DA SILVA, Aletéia Karina Lopes; DE SOUZA DOMINGUES, Maria José Carvalho. Plágio no meio acadêmico: de que forma alunos de pós-graduação compreendem o tema. Perspectivas Contemporâneas, v. 3, n. 2, 2009. GUEDES, Diego Oliveira; GOMES FILHO, Douglas Leonardo. Percepção de plágio acadêmico entre estudantes do curso de odontologia. Revista bioética, v. 23, n. 1, p. 139-148, 2015. BARBASTEFANO, Rafael Garcia; DE SOUZA, Cristina Gomes. Percepção do conceito de plágio acadêmico entre alunos de engenharia de produção e ações para sua redução. Revista Produção Online, v. 7, n. 4, 2007.
Me. Gracilene Muniz Braga
Dra. Franciane Figueiredo da Silva
Tutoras do ensino a distância